Quando pensei em escrever sobre este tema, me veio imediatamente o desejo de entender como de fato surgem as tendências… E lá fui eu fazer uma das coisas que mais gosto de fazer – além de paisagismo, é claro: pesquisar origens, causas, evolução de movimentos vários.
A cultura humana se desenvolve através de um ciclo constante de inovação e cópia. A famosa frase atribuída ao químico francês Antoine Lavoisier, “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, foi ganhando novas interpretações, especialmente nestes tempos de maior acesso a informação: “Na Natureza nada se cria, tudo se copia”, ou como afirmou o escritor e diretor Kirby Ferguson em seu documentário sobre o tema: “Everything is a Remix” (Tudo é um remix), defendendo que a seleção e combinação de referências são a origem das grandes inovações e que mesmo os gênios às vezes se apropriam de ideias às quais sua genialidade confere uma nova dimensão.
De qualquer forma, tendemos a imaginar que alguém muito criativo pensa em algo inovador que cai no gosto de um grupo e que, a partir daí, isso vai se espalhando por outros grupos, até virar uma “tendência”. O processo não é tão simples assim. Em primeiro lugar, mesmo as pessoas muito criativas não estão imunes à influência dos contextos social, econômico, político e tecnológico, que engendram novas formas de comportamento. Além disso, hoje mais do que nunca as previsões para o mercado, indústrias, sociedade são feitas com base em análises de tendências quase que científicas; muitos fabricantes recorrem a empresas de futurologia para garantirem que seus produtos reflitam as tendências previstas nessas pesquisas e, assim, assegurarem boas vendas e bons lucros.
No mundo globalizado em que vivemos, hoje as tendências tendem a ser globais. E não poderia ser diferente com o paisagismo.
As tendências previstas para o paisagismo em 2020 refletem os problemas e limitações que afetam cada vez mais o mundo em que vivemos, e constituem maneiras de tentar reverter o tanto quanto possível esse estado de coisas. Como não se trata de problemas anuais, várias dessas tendências parecerão as mesmas de anos recentes – os problemas subsistem, portanto o foco continua neles. A ênfase está na valorização e proteção da natureza, dada a atual precariedade do mundo natural, e no recurso ao verde como forma de promover melhor qualidade de vida num mundo em que a urbanização é crescente. Hoje, mais de 50% da população mundial habitam em cidades, e a projeção é de que até 2050 esse número chegue a 70%.
Para produzir a lista das principais tendências, me baseei no relatório do Garden Media Group (Seeing 20/20), organização que há 20 anos prevê tendências para o paisagismo e a indústria da jardinagem em nível mundial; em feiras no Brasil e no exterior – especialmente a Spoga+Gafa, na Alemanha, considerada a maior do setor no mundo -; e em trocas com paisagistas brasileiros. São elas:
1.Prédios verdes/ Sustentabilidade – com pouco impacto ambiental, visando também o combate a poluição e melhora efetiva no bem-estar dos moradores:
2. Aumento de áreas verdes urbanas, para se escapar da agitação da cidade.
3. Ambientes mais verdes nas empresas.
4. O jardim como uma extensão da sala de estar:
5. Cozinhas mais completas no jardim:
6. Urban Jungle – Cultivo de muitas plantas dentro de casa. Uso de plantas de interior altas:
7. Xeropaisagismo – Cultivo de espécies xerófitas, que exigem pouca água e têm alta resistência a doenças, ventos fortes, raios solares intensos, ambientes hostis: cactos, suculentas, pata-de-elefante, aloé, agave, pata-de-vaca, entre outras.
8. Uso de plantas que atraem insetos.
9. Aumento do cultivo de PANCS (Plantas Comestíveis Não Convencionais) – Além de serem espaços onde relaxar, jardins, varandas, terraços passam a ter também um outro propósito, mesmo no paisagismo comercial.
10. Aumento de uso de nativas.
11. Jardinagem orgânica / compostagem.
12. Uso de materiais naturais – madeira natural, de fontes certificadas; vasos de material orgânico etc.
13. Uso de produtos e materiais renováveis, reciclados, reusados – pisos, móveis feitos de plástico reciclado etc.
14. Móveis e plantas pendentes.
15. Cores – 50 tons de mar…
Há mais de duas décadas, a Pantone, marca famosa que dita as tendências no mundo das cores, lança todos os anos um guia de cores que serão destaques no ano seguinte e que em geral simbolizam a era ou o momento em que estamos vivendo. A vice-presidente do Pantone Color Institute, Laurie Pressman, deixou escapar recentemente em uma feira, antes do anúncio oficial das cores para 2020, que a inspiração será o mar: tons de azul e verde.
Essa tendência já aparece em lançamentos de fabricantes de tinta brasileiros. A Suvinil, por exemplo, acaba de lançar a sua cor do ano para 2020: Mantra, que se dilui em outros dois subtons: Horizonte e Contemplação.
Enfim, essas são as principais tendências para o paisagismo 2020 nesta nossa Aldeia Global…
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