Na última palestra online organizada pelo Papo de Paisagista, com J. Pompeo como palestrante e Juliana Freitas como mediadora, falou-se sobre modismos no paisagismo – O que explica uma planta cair em desuso, ou uma outra virar ‘moda’?
Finalizada a palestra, fiquei elocubrando sobre essa questão…
Cheguei à conclusão de que é mais fácil identificar o que faz uma planta virar moda, e consigo ver várias razões para isso. Uma delas – a atração exercida pelo inusitado – foi apontada pela nossa mediadora, citando o caso das Aloes thraskii (babosa-gigante) no projeto de Carlos Orsini para a Mostra Black 2012. A planta, por si só, é extremamente escultural, belíssima; soma-se a isso o fato de até então não ter sido usada por paisagistas no Brasil e o modo como foi usada – mudas de 2m enfileiradas no jardim de entrada da casa. O impacto foi grande. Tornou-se o assunto do dia, e a Aloe thraskii, a nova queridinha dos paisagistas.
Mas existem também fatores extrapaisagísticos que influenciam essa questão. Não é à toa que, nestes tempos de mudanças climáticas e grandes preocupações ambientais, além da correria da vida nossa de cada dia, os cactus e suculentas tenham virado moda. Contribuem para a economia de água, são resistentes e exigem um mínimo de cuidados e manutenção. A atual preferência por plantas nativas também reflete uma maior consciência ambiental do paisagista e do consumidor.
Nos últimos anos as plantas de interior também voltaram à moda, como nos anos 70, especialmente entre a Geração Y – os nascidos entre 1980 e 2000 –, tendência essa verificada no Instagram, com mais de 2 milhões de posts com as hashtags #plantsofinstagram e #houseplants, 145 mil posts com a hashtag #plantasdecasa, 73.8 mil posts com #plantasdeinterior, entre outras. E na esteira dessa tendência, surge o conceito de Urban Jungle (floresta urbana) – o trazer a natureza para dentro de casa em maior escala.
Igor Josifovic e Judith de Graaff, criadores do site urbanjunglebloggers.com e donos da conta @urbanjungleblog, lideram esse movimento, com 857.000 seguidores no Instagram, tendo lançado em 2016 o livro Urban Jungle: Living and Styling with Plants, em que ressaltam os benefícios e a beleza das plantas de interior em espaços urbanos.
A atual necessidade de reconexão com a natureza, a obsessão por saúde e bem-estar explicam essa nova tendência, considerando ser hoje provado que o verde melhora a saúde mental e a qualidade do ar. Os mais céticos arriscam dizer que, sem condições financeiras para ter filhos, a geração do milênio os substituem por plantas…
Igor e Judith ridicularizam os que pensam assim e afirmam: “É muito mais fácil para os jovens viverem com plantas de interior porque elas requerem menos do seu tempo e lhes permitem viajar e se divertir sem restrições, ao mesmo tempo em que deixam o apartamento bonito e saudável”.
As samambaias, queridíssimas nos anos 70, foram rejeitadas por algumas décadas, para ressurgirem como uma das preferidas em jardins verticais, por seu volume, caimento e delicadeza.
Em resumo, são várias as razões pelas quais as plantas entram em moda, razões essas que vão além do fator meramente estético.
É mais difícil estabelecer o porquê de certas plantas saírem de moda. Nosso palestrante identificou como um dos motivos um fato muito simples: a saturação que advém do uso exagerado de certas plantas. Me lembrei logo da Ixora, figurinha fácil em milhares de jardins…
Eu adicionaria que certas plantas saem de moda devido a associações que se fazem com elas. A Espada-de-São-Jorge (Sansevieria trifasciata) foi por muito tempo vista como uma planta ‘brega’ pela sua associação com a umbanda. Hoje compõem maciços exuberantes em jardins de grandes paisagistas, além de filtrarem os gases tóxicos encontrados em ambientes internos, e, claro, protegerem contra o ‘mau-olhado’…
Em 2014, na exposição Fashion & Gardens, no Garden Museum em Londres – quando pela primeira vez se explorou a relação entre a moda feminina e paisagismo, e o fenômeno da popularidade de determinadas flores em determinados períodos – foram apresentados exemplos da mania por camélias e girassóis na Era Vitoriana e por margaridas na era Mary Quant, nos anos 60. No caso, eram as plantas a inspirar a moda, diferentemente do que ocorre hoje, quando diversos fatores tendem a tornar certas plantas mais ou menos populares. Curioso também que um dos quadros mais famosos de Van Gogh – que viveu no período vitoriano – é “Girassóis”. O que terá levado o girassol a ser um dos queridinhos daquela época? …
Não existe planta feia, existe sim planta mal tratada. Todas ficam belas quando recebem um vaso adequado e são bem cuidadas.
amo a natureza até em sima da minha cama coloco galhos de majiricao