Ambientes integrados, materiais naturais, e conexão entre áreas externas e internas, é fato que nos projetos de arquitetura atuais existe uma maior demanda por residências integradas com a natureza. O arquiteto autodidata Gerson Castelo Branco está desde os anos 1970 projetando casas com esses princípios. As Casas Paraqueiras que criou vão além do convencional e trazem uma nova forma de pensar a arquitetura.
Fotos: Acervo pessoal de Gerson Castelo Branco
Nascido em 1948 na cidade de Parnaíba (PI), Gerson cresceu consciente de que era apreciador das artes. Durante a adolescência, por ter uma personalidade livre, recebeu o apelido de Paraca, relativo a paraquedas, como alguém que está sempre se abrindo para a vida. Prestou vestibular para arquitetura no início da vida adulta, mas acabou cursando belas artes na Bahia, sem concluir a graduação. Ainda assim, conseguiu os primeiros clientes como arquiteto em Teresina (PI), e obteve sucesso.
Após uma viagem para os Andes, numa experiência que abriu seus olhos para novas possibilidades na vida, ele decidiu morar em uma aldeia de pescadores no litoral do Piauí. Lá teve contato com um modo de vida muito diferente dos centros urbanos, o que estimulou sua criatividade. Assim, reformou para si uma casa na comunidade com liberdade no desenho arquitetonico, apostando no pé direito alto, uso de materiais naturais e ambientes integrados que permitiam ver inclusive as pessoas que passavam ao redor da casa.
Foi assim que o Paraca criou as Casas Paraqueiras, mantendo sempre o princípio do respeito a paisagem local e o uso da criatividade para romper com os padrões estabelecidos. O Casa de Valentina conversou com Gerson Castelo Branco para saber melhor sobre seu estilo e sua trajetória.
Casa de Valentina: De onde surgiu a vontade de estudar arquitetura e artes?
Gerson Castelo Branco: “Aos 14 anos eu descobri meu interesse em desenhar casas. Mesmo tentando por duas vezes o vestibular de arquitetura, não entrei na faculdade e terminei ficando três anos e meio na Universidade Federal da Bahia (UFBA) de belas artes. Isso não me impediu de começar a projetar e construir em Teresina, no Piauí.”
CV: Como surgiu a ideia de criar a sua primeira Casa Paraqueira?
Gerson Castelo Branco: “Em 1975, depois de uma longa viagem na Cordilheira dos Andes, retornei para o Brasil e, mesmo o mercado de trabalho estando em Teresina, preferi comprar uma cabana numa aldeia de pescador, numa praia que não havia estrada de acesso, luz, polícia, igreja. Essa cabana foi reformada e ganhei com ela minha primeira publicação na revista Casa Claudia (1977). Então, fiz uma segunda reforma utilizando elementos naturais da região, como teto de palha e troncos de carnaúba, esteiras de cipó de macaco. Nasciam aí as Casas Paraqueiras, resgatando as raízes culturais do Brasil por meio da arquitetura e da decoração.”
CV: Quais você considera que sejam os principais elementos de uma Casa Paraqueira?
Gerson Castelo Branco: “Essas arquiteturas, além de resgatar essas raízes, tinham formas ousadas, espaços integrados, verdadeiros lofts, mesmo que essa denominação ainda não existisse na época. A cozinha era o centro da casa, no meio da sala. O convívio nessas casas te deixava de bem com a vida. Elas eram integradas com a paisagem, com o melhor aproveitamento da luz e da ventilação.”
CV: Com quais materiais você prefere trabalhar?
Gerson Castelo Branco: “A vida e as necessidades dos clientes me fizeram trabalhar com todos os materiais, do aço ao concreto e às madeiras. Mas com as madeiras o processo criativo fluía numa transmissão fantástica, o que me levou a publicações internacionais como na famosa Architectural Digest USA, no qual me comparam ao arquiteto Frank L. White.”
CV: Como a natureza influencia e se relaciona com as casas Paraqueiras?
Gerson Castelo Branco: “Desde o primeiro olhar na escolha do terreno, como na Paraqueira Loiba na Espanha, com as possibilidades dos recursos naturais da própria região. Há o respeito pela topografia e as matas existentes, como na obra de Ubatuba e da Pedra do Sal, onde as pedras interagem internamente na ambientação.”
CV: Que arquitetos e artistas mais influenciam o seu trabalho?
Gerson Castelo Branco: “Quando eu era adolescente, a melhor arquitetura de Fortaleza onde eu vivia era de Acácio Gil Borsoi, e Janete Costa me encantava. Da Janete eu herdei o olhar para o artesão na decoração. Do Burle Marx recebi as influências paisagísticas. Frans Krajcberg também me influenciou.”
CV: Qual construção foi mais marcante na sua carreira?
Gerson Castelo Branco: “Não há uma específica, em todas há um aprendizado. Tive chance de fazer hotel, praça, parque, fábrica, mas meu amor sempre foram as casas.”
CV: Você acha que as Casas Paraqueiras mudam a relação das pessoas com as cidades?
Gerson Castelo Branco: “Desde meus primeiros trabalhos, um quarto das áreas onde eram implantadas essas arquiteturas eram doadas paisagisticamente para a cidade. Na própria arquitetura há transparência onde vazam uma relação do interno com o externo muito louco! Os espaços ficam mais humanizados.”
As casa Paraqueiras do Gerson são simplismente um sonho!