A coluna de hoje é sobre a psiquiatra e psicoterapeuta Sue Stuart-Smith e o poder terapêutico do verde e do contato com a natureza.
Sue Stuart-Smith é a mulher de Tom Stuart-Smith, o maior ou um dos maiores paisagistas britânicos da atualidade. Mas a importância de Sue Stuart-Smith advém de mérito próprio. Além de sua proeminência como psiquiatra e psicoterapeuta, ela lançou em abril deste ano o aclamado livro The Well Gardened Mind (A mente bem cultivada, em tradução literal). Nele, Sue mostra sua visão singular do trabalho com plantas e jardins: “Percebi que a criação de jardins e a jardinagem envolvem processos existenciais profundos”. Para ela, um jardim representa muito mais do que apenas um espaço físico – é um espaço mental que nos “permite ter quietude e ouvir nossos pensamentos”. Ao cuidar de suas plantas, você está ao mesmo tempo cuidando do seu íntimo.
A autora tece em conjunto elementos, fatos e evidências extraídas da Literatura, da Antropologia, da Psicologia, da Psicanálise e da Neurociência, das histórias e depoimentos de seus pacientes e de pessoas que tiveram suas vidas transformadas pela horticultura, bem como das suas experiências e as de sua família e o impacto mental que o trabalho com plantas teve em suas vidas. Além disso, recorre a pensadores psicanalíticos como Jung, Freud e Winnicott, que, de diferentes maneiras, entenderam de modo profundo a relação do homem com a natureza.
Assim, com base nessas pesquisas e evidências, o livro de Sue Stuart-Smith revela muitos insights sobre os benefícios da jardinagem e do contato com a natureza para a nossa saúde mental.
O ritmo da vida urbana moderna leva à desvalorização do ritmo mais lento do tempo natural. Nós nos tornamos desconectados da natureza. O psicanalista Carl Jung acreditava que a vida tecnológica moderna nos havia alienado de nosso íntimo e pregava que “todo ser humano deveria ter um torrão para cultivar, de modo que seus instintos pudessem ganhar vida novamente.
As pesquisas mostram que a proximidade com a natureza verde alivia a ansiedade, melhora o humor e revitaliza o funcionamento cognitivo, além de diminuir a pressão arterial e os níveis do cortisol, o hormônio do estresse. Mostram também que o contato com o solo nos expõe a bactérias benignas que fortalecem o sistema imunológico. Tudo indica que uma delas em especial, a Mycobacterium vaccae, contribui para o aumento dos níveis do neurotransmissor responsável pelo humor, a serotonina, no cérebro.
Outros aspectos psicológicos e emocionais dos efeitos da jardinagem são igualmente importantes. Por exemplo, lidar com o ciclo da vida através das plantas pode ser extremamente benéfico após uma grande perda ou trauma. E o sentimento de autorrealização que o trabalho com a natureza verde traz aumenta a nossa autoestima.
Neste nosso momento atual, em que passamos por uma crise de saúde mundial, as pessoas têm mostrado maior interesse em plantas, jardins, em se conectar mais com a natureza, enfim. Esse fenômeno tende a ocorrer após desastres naturais e guerras, afirma Sue, e foi denominado “biofilia urgente” por Keith Tidball, da Universidade de Cornell, para descrever essa preemente necessidade de nos reconectarmos com a natureza quando expostos a situações extremas.
Há diversas maneiras de introduzir a natureza verde em nossas vidas mesmo que não tenhamos um jardim, diz Sue: cultivando ervas aromáticas no parapeito da janela; enfeitando a casa com flores de corte ou com plantas cultivadas em vasos; ouvindo gravações de cantos de pássaros ou de outros sons da natureza; ou passando algum tempo em ambientes abertos, com árvores e plantas ao redor, apreciando o mundo natural à nossa volta. Nossa saúde mental depende de encontrarmos um espaço calmo dentro de nós, e a natureza verde pode nos ajudar nisso, porque as plantas e as árvores não são afetadas pelos problemas que passamos, são estáveis, e, assim, capazes de nos prover da tranquilidade necessária à nossa paz interior.
Somos parte da natureza, e precisamos cultivar nossa conexão com ela para prosperarmos e vicejarmos como seres humanos.
Bom dia. Gosto de temas como este…atemporais. Vivemos em busca constante de qualidade de vida…e vivemos ao lado é dentro da natureza que é tudo o que precisamos e que foi deixada pra nós pelo divino. É qdo voltamos a necessidade intrínseca e viceral de saude mental e física. Tão simples é tão ao alcance das mãos. ..mas tão esquecida. Adorei a postagem…
No diário de Anne Frank há um lamento dela por não poder sair do esconderijo onde estava; sem ter contato com a natureza, tudo ficava ainda mais mais difícil de suportar!
O “mais” está repetido!