Um dos principais aprendizados na minha formação em Paisagismo pela escola The English Gardening School, em Londres, foi projetar um jardim utilizando o método do grid (método da grelha) do grande paisagista inglês John Brookes (1933-2018), que é um de seus maiores legados. A fundadora da escola e uma de nossas mestras, Rosemary Alexander, havia trabalhado por muitos anos com Brookes, sendo forte adepta dessa metodologia.
No final dos anos 1950, Brookes comecou a associar arte moderna com paisagismo, influenciado pelo pintor holandês Piet Mondrian e pelo pintor inglês Ben Nicholsen. Naquela altura, Brookes tinha ido trabalhar na revista Architectural Design com a função de redesenhar plantas de arquitetos para publicação. As pinturas de Mondrian e Nicholsen o ajudaram a ter melhor compreensão das linhas horizontais e verticais em arquitetura, o que, por sua vez, o levou a desenvolver o método do grid, para jardins de pequeno porte especialmente.
O objetivo dessa metodologia era que o jardim se adequasse as proporções da casa, como uma projeção da casa, ao invés de parecer sobreposto a ela. E a maneira mais eficaz de se garantir isso seria desenhá-lo utilizando uma grelha, ou quadrícula, baseada nas proporções da edificação ou de seus principais aposentos. Segundo Brookes, o grid unifica o jardim e permite maior fluidez aos desenhos.
Brookes é considerado o criador do jardim moderno na Grã-Bretanha por ter introduzido princípios de design para jardins. É preciso lembrar que, até ele surgir com sua metodologia, o paisagismo britânico se resumia praticamente em uma grande exposição de flores. De acordo com o paisagista, “ No início da minha carreira, havia ou jardins de magníficas mansões, que tentavam imitar os jardins de Sissinghurst, ou pequenos jardins urbanos onde as plantas eram plantadas à volta de um gramado, e só… Não se pensava em termos de design. […]”
Brookes passou a tratar as plantas como blocos constitutivos; outros blocos incluíam os elementos construtivos e elementos práticos como a área gourmet, horta etc. O método do grid permitiria conjugá-los de modo que formassem um todo coeso.
Vou exemplificar essa metodologia usando o primeiro projeto que fizemos no curso. O cliente era real – uma ideia inteligente da diretora Rosemary Alexander: eram oferecidos projetos a pessoas que de fato desejavam um projeto para seus jardins; em troca, eles disponibilizariam seus jardins para que um grupo de 11 alunos (o número total de alunos na minha turma) “invadissem” suas casas para fazerem um levantamento minucioso do terreno com a ajuda do professor-topógrafo. No final do processo, receberiam 11 opções de projeto completo.
De posse da planta baixa, fomos instruídos sobre como criar o grid. O tamanho da quadrícula, isto é, o espaçamento entre as linhas verticais e horizontais, deveria se basear nos pontos ou linhas dominantes da casa (quinas, indentações, espaçamento regular entre portas e janelas etc.). Observação: Na ausência de quaisquer pontos desses, simplesmente subdivide-se o comprimento total do terreno. Assim, criamos a linha base, a linha horizontal, partindo da quina da casa e definimos o tamanho da quadrícula com base no espaçamento entre portas e janelas:
Em seguida, a criação do desenho: em retângulos, quadrados, círculos, na diagonal… As opções são infinitas:
Optei por retângulos e quadrados. A orientação era que desenhássemos aleatoriamente essas formas na grelha, superpostas ou não, e aos poucos fôssemos apagando uma ou outra linha, desenvolvendo, dessa forma, o desenho final. Obviamente já tínhamos recebido o briefing da cliente, com os elementos que ela gostaria de ter no jardim, e tínhamos isso em mente durante a elaboração do desenho.
O resultado final:
Vejam uma outra exemplificação, extraída do livro The Essential Garden Design Workbook, de Rosemary Alexander, em que foram usadas as portas francesas para decidir o tamanho da quadrícula.
Neste extenso jardim de uma casa no campo, foi feita uma grelha menor para a área mais próxima da casa, e ela foi triplicada para a área mais afastada. Observe que as linhas, tanto da quadrícula menor como da maior, partem das dimensões da casa, mantendo-se proporcionais a ela.
Resumindo, a regra geral é que as dimensões da grelha derivem das dimensões da propriedade, de forma que, se a casa for grande, a grelha deverá também ser grande, e vice-versa.
Mas, como costumava dizer John Brookes, “A grelha não é para ser um colete-de-força, mas apenas uma maneira de se pensar em termos de proporção.”
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